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Apresentação

Propõe-se, neste projeto de submissão ao Edital 001/2019 FAPEMA, a realização de três eventos em um, XXIII Semana de Filosofia: A Filosofia e a Crise da Verdade e I Seminário de Pesquisa do PROF-FILO UFMA: Filosofia e Crise: ensino, escola, currículo, que terá lugar na Cidade Universitária Dom Delgado (UFMA), especificamente nos Auditórios do prédio do Centro de Ciências Humanas e no Auditório Central.

Sobre a XXIII Semana de Filosofia: A Filosofia e a Crise da Verdade, ressaltamos o histócio das semanas de Filosofia. As Semanas de Filosofia nasceram da vontade e do interesse em difundir e aprofundar o debate filosófico na Universidade Federal do Maranhão. A I Semana de Filosofia da UFMA foi realizada há 38 anos, em 1981. Desde a primeira edição, as Semanas sempre se distinguiram pela proposição de um tema instigante no contexto filosófico, com potencial de gerar debates produtivos entre os participantes.  Tendo surgido como um evento de periodicidade anual, a Semana de Filosofia teve várias edições consecutivas nos anos de 1980 e 1990, abordando temas como “Filosofia e Ciência”, “Vida: começo e fim”, “Crise e Filosofia”, “Filosofia e Poder”, “Liberdade e Escravidão”, dentre outros.

O objetivo principal das Semanas sempre foi promover e articular o ensino, a pesquisa e a extensão. Ao mesmo tempo em que as Semanas vêm fomentando a pesquisa, pois constituem-se num fórum de debates sobre as investigações em andamento na universidade, e promovendo o ensino, pois dão aos estudantes a oportunidade de entrarem em contato com uma diversidade de temas que contribuem para sua formação, elas vêm fortalecendo a integração da UFMA com a comunidade acadêmica maranhense em geral, atraindo pesquisadores e estudantes de outras instituições e consolidando o papel da UFMA como referência da pesquisa em filosofia no estado do Maranhão. A participação constante, nas edições passadas, de estudantes e professores de outras instituições de ensino superior do estado, como o IESMA e a UEMA, e também de professores de filosofia que atuam no ensino fundamental e médio, comprova que esse objetivo tem sido alcançado.

Ao longo desses 38 anos de história, as circunstâncias por vezes impediram que a periodicidade anual fosse mantida. Contudo, a semana de filosofia tem ocorrido ao longo desses anos e em 2019 chega a sua 23ª edição com a temática: A Filosofia e a Crise da Verdade.

O tema da verdade em filosofia remonta aos gregos, sua procura amorosa pelo saber a pressupõe como alcançável, destarte, quer através dos pré-socráticos em suas investigações sobre o princípio donde emergiria todas as coisas (arché), quer através da maiêutica socrática ou da apreensão direta do mundo das ideias de Platão, ou ainda por meio de uma perspectiva lógica, formal, com Aristóteles, poder-se-ia desvelar a verdade, muito embora seja também entre os gregos, mais exatamente no período helenístico, que ataques incisivos à possibilidade de atingi-la por meio do conhecimento são feitos, através do ceticismo pirrônico, que chega mesmo a sugerir a suspensão de juízos, que embora não tenha alçado voo no período medieval, posto que nesse momento a verdade revelada nas sagradas escrituras impunha-se como ponto de partida para as mais variadas justificações filosóficas desenvolvidas em tal contexto. Encontrando, não obstante, seu lugar de retomada na Renascença através de Montaigne, que inspirará, em grande medida, as discussões do séc. XVII, de racionalistas e empiristas, em torno da necessidade de fundamentação epistemológica da verdade, sob pena da impossibilidade de uma clara demarcação entre opinião (doxa) e ciência (episteme),o que inviabilizaria defender de modo consequente o conhecimento da verdade. A verdade assim reabilitada pelas teorias do conhecimento do primeiro século da modernidade, permanece alvo de discussão no século subsequente através, sobretudo de Hume e de Immanuel Kant. Kant, opondo-se ao empirismo cético humano, segue em seu criticismo defendendo a verdade por meio do transcendentalismo, delimitando, no entanto, que o conhecimento legítimo da verdade se dá estritamente na esfera do fenômeno, portanto do objeto de uma experiência possível, não podendo estender-se a esfera do suprassensível, do incondicionado, isto é, do noumênico. O criticismo kantiano representará nesse cenário um divisor de águas, configurando-se como passagem obrigatória para as mais variadas filosofias que se desenvolverão no século XIX, frequentemente alvo de crítica, como é patente entre os idealistas alemães, porém não apenas ocasionará rupturas definitivas, mas também influências, como pode ser evidenciado, por exemplo, no pensamento de  Schopenhauer e de Max Weber, tanto quanto no séc. XX, através da fenomenologia de Husserl, Merleau Ponty, na filosofia analítica de Wittgenstein, na filosofia política de Hannah Arendt, no existencialismo sartreano, dentre outros. Claro é, no entanto, que o séc. XIX marcado por um cenário deveras influenciado pelo Romantismo, desconfia da capacidade da razão iluminista e de sua estreita relação com a ciência, trazendo para a cena filosófica o sentimento, e a, até então, exilada imaginação, desconfia do próprio sustentáculo das mais caras afirmações da filosofia do XVIII, a natureza humana, pensando o homem em seu devir, sujeito às vicissitudes do tempo, portanto, muito mais afeito a ser pensado a partir de sua condição humana e, por assim dizer de sua condição no mundo. Essa conjuntura modifica grandemente a forma de pensar a verdade, com efeito, a filosofia nietzschiana, por exemplo, não lhe concederá abrigo, defendendo em seu lugar o perspectivismo, que em muito auxiliará a filosofia pós-moderna, em sua desconstrução da tradição filosófica e, consequentemente, da própria verdade,  doravante esta cederá lugar a opiniões, ao consenso, ao próprio perspectivismo em suas novas variações. Do ponto de vista da epistemologia contemporânea a noção de probabilidade e verossimilhança (vide a epistemologia indutivista e a popperiana) são emblemáticas, tanto quanto a defesa de certo irracionalismo na ciência. Em meio a essa reviravolta em torno da noção de verdade, da qual não escapa nem a teologia, a desmitologização, sem dúvidas disso dá testemunho, evidentemente, o rigor científico, ancorado em certa objetividade, da qual não poderia abrir mão, o testemunho dos fatos, a hermenêutica, o próprio desenvolvimento tecnológico, a consistência argumentativa, enfim todos esses aparatos, frutos do labor intelectual e da capacidade de entendimento razoável entre os homens, funcionaram para garantir, sob certa medida, a manutenção de certas balizas epistemológicas e ontológicas.

Atualmente, o tema da verdade, agora sob a insígnia da pós-verdade, volta a ocupar o centro das discussões e, nesse contexto, o espantoso e mesmo aterrador é que as referidas balizas perdem por completo sua força, a documentação dos fatos, perde por completo sua importância, convertendo-se pura e simplesmente em mera invenção, passível, assim, de ser substituída por uma nova narrativa retórica, por mais imaginativa e distanciada do testemunho empírico e da interpretação epistemológica da realidade, a história, por exemplo, vê-se ameaçada, não por uma acurada revisão e releitura dos acontecimentos, mas porque a informação que doravante circula nas redes sociais assim propõem. Não apenas a história, mas a geografia, a astronomia, a física tornam-se alvos quando a as evidências científicas são trocadas por fabulações – nesse sentido, pode-se afirmar ser a terra plana, sem uma discussão argumentativa  com séculos de filosofia ou com as descobertas científicas mais recentes, destituindo-se de autoridade intelectual, personagens que tiveram seu trabalho universalmente reconhecido, atestado, e ao mesmo instituindo como célebre figuras absolutamente inexpressivas no âmbito da comunidade acadêmica, quer científica, quer filosófica. Essa perspectiva, que se instaura num mundo onde a esfera pública, tornou-se virtual, assim possibilitada pela internet, ingere também na política, na religião, na economia, na ética, esferas distintas do modo de ser do homem no mundo. Dessa forma, objetiva-se com esse evento analisar e discutir esse cenário que se impõe como absolutamente singular e carente de urgente reflexão filosófica, examinando suas origens, implicações, possíveis desdobramentos e alternativas.

Quanto ao I Seminário de Pesquisa do PROF-FILO UFMA: Filosofia e Crise: ensino, Escola, currículo, ressaltamos que, no ano de 2017 teve início a primeira turma do Mestrado Profissional em Filosofia da Universidade Federal do Maranhão em rede com a Universidade Federal do Paraná.

Ao longo desse período têm-se discutido temas referentes ao ensino de Filosofia na educação básica, no fundamental e médio, enfatizando as questões metodológicas, a formação de professores, currículo e o uso de tecnologias como elemento de mediação para o ensino de Filosofia nas redes Municipal e Estadual do Maranhão.

Em conjunto com a Semana de Filosofia cujo tema é "A filosofia e a crise da Verdade", o Prof-Filo propõe o I Seminário de Pesquisa intitulado Filosofia e Crise: ensino, escola, currículo", com o objetivo de refletir acerca  do tema com a comunidade acadêmica em geral, da graduação e pós-graduação, principalmente da área de Humanas e Sociais.

O tema proposto desde sempre atravessa a educação, especialmente a educação filosófica. O ensino, pressupõe docentes habilitados a ministrar a disciplina filosofia o que torna relevante o debate sobre a formação de professores. A escola, enquanto espaço "que não é uma instituição homogênea e unificada, mas, como (...) uma montagem provisória de práticas, artefatos, pessoas, saberes, que não se define somente pelas paredes ou pelas formas de regras estatais, mas por  complexas interações em várias direções, entre elas as operações para montá-las (Dussel, Inês. Sobre a Precariedade da Escola. In: Elogio da Escola. Organização Jorge Larrosa. Belo Horizonte: Editora Autêntica, 2017, p 95). Currículo, mais do que um elenco de disciplinas, deve refletir um projeto político pedagógico e, principalmente, ter em vista algumas questões: o que ensinar? para quem ensinar? formar e educar? filosofia para quê?

Considerando a nova política nacional para a educação em todos os níveis com implicações graves para a filosofia e as Universidades públicas federais justifica -se a proposta de realização do evento em conjunto com XXIII Semana de Filosofia e o VII Colóquio do Grupo de Pesquisa em Ética e Filosofia Política.

Assim, a XXIII Semana de Filosofia: A Filosofia e a Crise da Verdade, bem como, o I Seminário de Pesquisa do PROF-FILO UFMA: Filosofia e Crise: ensino, escola, currículo, a serem realizadas em novembro de 2019, em São Luís, propõe reunir professores universitários, graduandos e pós-graduandos de vários estados brasileiros, professores e alunos da rede municipal e estadual de ensino e demais membros da comunidade para um rico debate sobre os temas: A Filosofia e a crise da verdade, Relação entre corpo social e corpo político, e também, ainda sobre filosofia e crise, pensar a questão do ensino, da escola e do currículo.

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